Não, não me refiro a língua como um órgão, trato de idioma, a linguagem que falamos. O que tem ela? Bem, desconheço entre os estrangeiros, mas aqui no Brasil a gente vê muito em redes sociais e no cotidiano pessoas corrigindo as outras dizendo que tal palavra não é assim que se escreve ou a maneira certa de falar é essa ou aquela. Do meu ponto de vista, isto intenta ajudar na compreensão e na estética das mensagens, mas mesmo assim, o idioma naturalmente se transforma.
Sabe a origem da palavra "você"? Não fiz um estudo profundo, mas assistindo novelas e filmes de tempos antigos assim como lendo livros com português arcaico, acredito que inicialmente falava-se muito "Vossa mercê" em Portugal; no Brasil colonial, gente da ralé dizia "Vosmecê", daí foi um "pulo" para chegar em "Você". Assim como temos "Caixa d'água", provavelmente no passado, para referir-se a algo dourado, diziam "cor de ouro" que depois virou "cor d'ouro" e "d'ouro", com o avançar do tempo, se transformou em "dourado".
O que quero dizer é que a língua é como um ser vivo que evolui naturalmente com o avanço dos anos. As pessoas, sejam por baixa instrução, estilo, vontade, desconhecimento de uma palavra para descrever algo, por necessidade técnica ou social ou simplesmente vício de linguagem; criam regras gramaticais próprias, abreviam, juntam, separam, trocam letras e por aí vai. As ouvintes, pela repetição ou por considerarem mais legal ou apropriado, passam a falar também e isso se propaga entre tudo e todos.
O que é mais importante na língua? É o escrever e falar bem? Não! É ser entendido. Ter a informação pensada transmitida corretamente para o outrem. Desobedecendo as regras gramaticais e ortográficas compromete-se isso? Num primeiro momento pode sim se usar-se palavras ou regras muito diferentes das que o ouvinte está habituado! Mas depois que se explica, conversam sobre o significado de cada coisa, a comunicação ocorre tranquilamente. Digo isso por experiência própria. Morei 10 anos em São Paulo e depois fui para o Ceará. Uma vez eu tava no recreio no ensino fundamental, uns amigos meus estavam conversando sobre um tal de "mudubim", e era essa palavra sendo repetida diversas vezes e eu sem saber o que era isso, então perguntei o significado dela, me explicaram que era amendoim. Pronto! Toda vida que usassem "mudubim" por aí, seria tranquilo. Outra vez estava na casa da minha vó que pediu para pegar umas folhas de "carrapateira"; se encontrava na minha frente e nada de me "tocar", daí ela apontou para aquilo, foi aí que percebi que se referia ao que eu conhecia como "mamona".
Uma dificuldade que tenho é quando estou conversando com alguém no chat do facebook e a pessoa abrevia muito as palavras que usa. Parece um outro idioma. De fato, não sou deste universo e até eu pegar no "tranco", requer um tempo, mas um dia, com a exposição a isso, aprendo.
Assim, muitas palavras que falamos e escrevemos hoje e são adotadas como cultas, no passado, eram tidas como coloquiais e várias outras que temos como errôneas hoje, futuramente serão incorporadas à gramática do nosso idioma ou de outros.